terça-feira, 26 de março de 2013

Aliança entre Aécio Neves e Eduardo Campos é negociada por Cunha Lima


                      Cunha Lima e Eduardo Campos conversam, em recente encontro na capital pernambucana
Uma vez consolidada a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à direção do partido e, ato seguinte, ao Palácio do Planalto, em uma disputa direta com a atual presidenta, Dilma Rousseff, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ganha peso específico na disputa. Na tentativa de atrair o Partido Socialista Brasileiro (PSB) para o campo da direita, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) foi destacado pela Executiva Nacional dos tucanos como eventual negociador de uma aliança, em âmbito nacional, entre os dois presidenciáveis, com vistas às eleições de 2014. Cunha Lima tem livre trânsito junto aos dois líderes, não é de hoje.

Em entrevista a uma rádio de Campina Grande (PB), o senador paraibano adiantou que “essa composição não ocorreria inicialmente, logo no primeiro turno, mas em um possível segundo turno”. Ainda à Rádio Caturité, Cunha Lima defendeu a aproximação de ambos, sob o ponto de vista meramente eleitoral, sem qualquer viés ideológico.

– Os dois devem conversar. A candidatura de Aécio mexe com um importante colégio eleitoral, Minas Gerais, onde o PT sempre ganhou nas últimas eleições, mas a tendência é que Aécio ganhe em Minas. A candidatura de Eduardo Campos mexe muito com o Nordeste, onde o PT e Dilma sempre tiveram bases sólidas, apesar de todas essa pesquisas recentes apontando o elevado índice de aprovação da presidenta. Tenho certeza que ela não terá a mesma densidade eleitoral se esse descaso e abandono com o Nordeste continuar – afirmou.

Na noite passada, Aécio Neves obteve a aprovação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para ser o candidato único à presidência do PSDB, etapa importante, segundo aliados do político mineiro, para consolidar sua candidatura ao Planalto, no ano que vem. A declaração de apoio ocorreu em um evento do diretório estadual do PSDB na capital paulista, do qual participaram os principais nomes do partido no país (com exceção do ex-governador José Serra), numa tentativa de mostrar unidade na legenda visivelmente dividida.

Clima de campanha

Neves foi recebido, na noite passada, por caciques tucanos de São Paulo, em clima de festa, na sede do diretório estadual do partido. Ele chegou acompanhado do governador paulista, Geraldo Alckmin, poucos minutos depois do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC). O ex-governador José Serra, que estaria de saída do PSDB devido à perda de espaço para Aécio, não compareceu, sob pretexto de que já havia marcado viagem para os EUA na mesma data. Em seu discurso, Alckmin foi claro sobre seu apoio ao senador mineiro para presidir a legenda, já a partir da convenção que foi marcada para maio deste ano, após uma série de adiamentos.

– Que que você, Aécio, assuma a presidência do PSDB, percorra o Brasil, ouça o povo brasileiro, fale ao povo e una o PSDB – discursou o governador paulista.

Em conversa com jornalistas, durante o evento, Aécio foi cauteloso ao afirmar que será o candidato escolhido pela legenda:

– Ainda não está na hora. Não é uma questão individual, é uma decisão que o partido vai tomar na hora certa.

Presidente do partido no Estado, deputado Pedro Tobias, no entanto, não foi assim tão cuidadoso:

– A militância quer lançar candidato já.

Adversário histórico de Serra no PSDB, o secretário Estadual de Energia do governo Alckmin, José Aníbal, perguntado se Aécio será o candidato a presidente, também não deixou dúvidas:

– Isso ficou claro hoje.

Já FHC preferiu desconversar.

– Não, não, a campanha é para a presidência do partido.

Chamando Serra de “dileto amigo”, FHC explicou a ausência do candidato derrotado à Presidência da República, em 2010. Disse que ele viajou aos Estados Unidos, onde participará de uma homenagem ao economista Albert Hirschman, morto em dezembro.

– Eu me sinto representado por ele lá, e espero que ele se sinta representado por mim aqui – acrescentou.

Embora os cardeais tucanos neguem a intenção de Serra deixar o PSDB, rumo ao PPS, ou até mesmo um novo partido, pelo qual disputaria a eleição para o governo de São Paulo em 2014, pesa a dúvida quanto à permanência do ex-governador paulista na legenda.

– É absolutamente delirante essa informação (de que Serra deixará o partido). Essa é a primeira vez que ouço isso, porque realmente seria impensável. Eu acho que não. Como Fernando Henrique disse hoje, ele se sente, aqui, representando o Serra – disse José Aníbal à emissora paulistana Rede Brasil Atual (RBA).

Panos quentes

Em seu discurso aos correligionários, o ex-governador de Minas se preocupou com a tentativa de aparar as várias arestas que o incomodam junto aos tucanos paulistas, onde ainda encontra resistências substantivas ao escanteio de Serra.

– Aqui foi que tudo começou. O PSDB do Brasil inteiro deve muito aos paulistas, às lideranças que aqui estão, a outras lideranças extraordinárias como Mário Covas e Franco Montoro, à liderança de José Serra – amainou.

Aécio acredita que o PSDB ingressará na campanha do ano que vem em busca “do início de um novo ciclo” e voltou a criticar o suposto “aparelhamento” da máquina pública no governo do PT, afirmando que irá substitui-lo pela “meritocracia”. Apesar do discurso recorrente dos tucanos, levantamento publicado há uma semana pelo jornal O Estado de S.Paulo mostra que o PSDB lidera em total de cargos de confiança (onde se daria o “aparelhamento) entre os governos estaduais. Aécio também voltou a falar em “ética” e “eficiência”. “O PSDB não tem sequer o direito de se negar a apresentar ao Brasil uma alternativa a esse modelo de governo que aí está, do ponto de vista ético, da eficiência, de uma visão mais moderna de país e de mundo.”

Também nesse ponto, dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que entre os anos 2000 e 2012 o PSDB é o terceiro partido com mais políticos cassados por corrupção (58), ficando atrás apenas do PMDB (66) e do DEM (69). O PT, alvo de Aécio, estava em 9º no ranking, com 10.

No discurso à militância, o senador e ex-governador mineiro voltou a atacar os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, chamando-os de “projeto de poder do vale-tudo” e protagonista do “mais perverso aparelhamento da máquina pública”. Segundo Aécio, “o maior programa de distribuição de renda não é o bolsa-família, é o Plano Real”. Esta foi a senha para, em Minas Gerais, parlamentares do PSDB voltarem a cobrar punição para os culpados pelo esquema de compra de pareceres técnicos em órgãos do governo federal, desvendado pela Polícia Federal, no ano passado.

Em nota, distribuída na manhã desta quarta-feira, o diretório mineiro do PSDB lembra que “quatro meses se passaram desde que a operação Porto Seguro foi deflagrada, mas poucos foram os resultados práticos. Os tucanos criticaram o silêncio de Dilma Rousseff e a omissão do ex-presidente Lula em relação à ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha. Ela é apontada como uma das principais responsáveis pelas irregularidades”.

“O caso veio à tona em 23 de novembro, após a PF desmontar o esquema no gabinete de Rosemary, considerada amiga pessoal de Lula. Naquele momento, seis pessoas foram presas e 24 afastadas. Desde então, pouca coisa avançou: todos os envolvidos estão soltos, a Justiça ainda estuda se receberá a denúncia do Ministério Público Federal e os órgãos prosseguem em lenta apuração do envolvimento de servidores. Lula se omitiu em relação à pupila e a própria nunca deu explicações sobre as acusações que a derrubaram do cargo”, conclui a nota.



Fonte: Correio do Brasil

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